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Meirelles Imperador
Démerson Dias
O governo Lula não é apenas irrecuperável, é um governo plenamente amalgamado 
aos interesses da burguesia e comprova isso a cada momento em que tem em suas 
mãos decisões cruciais. Passando o mandato, provavelmente se diluirá como se 
dissolve a cápsula de um supositório.
Quando supomos que já chegou ao fundo do poço do cinismo ele prova que sempre é 
possível avacalhar mais ainda com esse ensaio frustrado de democracia que é o 
Brasil. Visando contribuir com os corações sobressaltados, convém anteciparmos 
logo os próximos passos. Pelo andar da carruagem e o agravamento das denúncias 
contra o presidente do Banco Central (a sucursal do Federal Reserve), não é 
improvável que Lula em breve esteja dissolvendo a república de decretando 
Meirelles o Imperador do Brasil.
Não se assustem que isso não trará grande mudança na nossa organização política. 
Meirelles já é o manda chuva faz tempo. No máximo as coisas ficarão mais 
explícitas do que estão hoje. Transparência já seria uma inconcebível conquista 
democrática nesse governo.
Para a profunda decepção de Lula, ninguém faz melhor o trabalho de um 
capitalista, do que ele mesmo. Lula tem se empenhado como um operário padrão 
praticamente ideal. Muito aplicado, merecedor de louvor e até algum "honoris 
causa" em servilismo deve estar a caminho. Será seu segundo diploma, bem mais 
merecido do que o primeiro.
Vai ficando cada vez mais claro, e os analistas precisam se convencer, que não 
foi Lula quem colocou Meirelles ali, mas foi a ida desse ao governo que garantiu 
que o imperialismo concedesse a eleição de Lula.
Posso estar me antecipando um pouco, é possível que o governo vá procedendo a 
ascensão do banqueiro de forma paulatina. Na próxima denúncia ele deve virar 
vice, depois presidente do STF e só então virar imperador. E deus que se cuide.
Evidentemente Lula estabelecerá uma disposição transitória que lhe garanta 
acesso vitalício a algumas dependências do palácio. A sala de cinema, a adega, 
talvez até decrete a granja do torto território de uso fruto perpétuo de sua 
família e assim garante um campinho maneiro para a pelada com os amigos.
Não é improvável que o imperialismo lhe conceda esse agrado.
Contudo é sempre conveniente não apostarmos cegamente que somos mais capazes do 
que o governo Lula em soluções desesperadas. Vai que eles identificam que o 
problema é existir qualquer resquício de organização pública minimamente 
institucional (qualquer coisa como estado, direito, democracia, liberdades etc) 
e então reduzem ao país à granja do torto nos termos acima e privatizam toda a 
região em torno até o Atlântico e países limítrofes assim não se corre risco de 
deixar qualquer brecha de intervenção política. Nesses termos Meirelles viraria 
logo o dono do Brasil, uma concessão pelos próximos quinhentos anos, para começo 
de conversa.
Ah, sim, revogaria a lei áurea e decretaria que todo ser vivo, bens móveis e 
imóveis existentes acima ou abaixo destes mais de oito milhões de quilômetros 
pertenceriam ao novo dono.
Imagino que Meirelles num gesto de bondade doaria sua considerável aposentadoria 
no BankBoston ao criança esperança.
Para quem considerar exagero é só passar em revista as decisões do governo Lula 
desde sua posse. Isso não está muito longe da realidade, se considerarmos que 
isso aqui era pra ser um Estado Democrático de Direito.
Afinal, essa democracia aplicada pelo PT não parece servir para muita coisa além 
de acobertar suspeitos, passar pito nos supostos aliados (esses são os limites 
do projeto político próprio do partido) e provar que são mais fiéis ao 
neoliberalismo que os próprios tucanos, hoje, uma pálida sombra de engajamento 
neoliberal, totalmente desmoralizados pela prática convicta do governo petista.
De qualquer forma é pouco provável que o país sobreviva muito tempo mais se o 
governo mantém a mesma direção intensidade e projeto. A realidade do país não é 
tão elástica a ponto de comportar esgarçamentos dessa magnitude entre a 
institucionalidade e a situação sócio-econômica.
Collor caiu por menos. E nem FHC ousou tanto.