Latinoam�rica
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Tortura, abuso, a viol�ncia como instrumento de poder
Laerte Braga
A forma fria, c�nica, como o secret�rio de Defesa, Donald Rumsfeld, definiu
as diferen�as entre abuso e tortura, tentando justificar o comportamento
animalesco de soldados norte-americanos no Iraque, � o prato feito e servido ao
mundo a partir da Organiza��o Casa Branca.
Organiza��es terroristas (como a Casa Branca, o Mossad, o governo de Israel),
criminosas pura e simplesmente (nas quais incluo al�m das m�fias tradicionais,
bancos e grandes corpora��es multinacionais ou n�o), t�m uma caracter�stica
comum: o membro, integrante, qualquer que seja seu poder na hierarquia, � �til
enquanto n�o cria problemas. Criou est� fora. Em alguns casos, literalmente
eliminado.
Rumsfeld � um problema para a reelei��o de George Walker Bush.
O desespero de Bush em pedir desculpas, dar entrevistas a uma rede de televis�o
�rabe (de capital norte-americano, criada por ele pr�prio), d� a dimens�o exata
do estrago causado pelas fotos feitas nas pris�es iraquianas e, evidente, seus
desdobramentos. Um ex-preso afirma hoje a todos os jornais do mundo que _tenho
vergonha de voltar para meu bairro .
Se vai cair ou n�o � outra hist�ria. Mas � problema. Pode at� sair sem sair. Ou
seja: mergulha na penumbra e l� fica esperando o resultado das elei��es, sem no
entanto perder a influ�ncia, o poder de fogo.
H� muito mais no p�nico de Bush tentando explicar o que � �bvio: a tortura, n�o
se trata de abuso, como pr�tica permanente e sistem�tica, incorporado aos
m�todos de a��o, dos Estados Unidos ao longo de sua hist�ria de guerras de
agress�o, coloniza��o, ocupa��o, quaisquer que sejam.
Wilfred Burchet denunciou, � �poca da guerra do Vietn�, que pesquisas sobre a
hepatite B estavam sendo feitas com cobaias humanas, os soldados do vietcongue
ou do ent�o Vietn� do Norte feitos prisioneiros.
Bush sentiu o golpe do documento de 53 diplomatas denunciando a perda da
credibilidade dos EUA, como conseq��ncia da insanidade da guerra no Iraque, ou
do apoio incondicional a um criminoso como Ariel Sharon.
As pesquisas feitas ap�s a revela��o do verdadeiro car�ter do governo terrorista
texano, mostram queda na aprova��o ao presidente. N�o mostram no entanto
crescimento do democrata John Kerry e isso tem sido destacado por quase todos os
ve�culos de comunica��o.
Acho cedo ainda para emitir uma opini�o definitiva sobre Kerry. Pode fazer parte
de uma estrat�gia de campanha deixar para enfrentar Bush a partir de julho.
Perigosa, mas uma estrat�gia.
O que de fato mostram, as tais pesquisas, � que o presidente tem ainda amplo
apoio e chances de reelei��o. Por qu�? O imp�rio dos EUA resulta do
extraordin�rio poder militar, montado sobre o n�o menos not�vel poder econ�mico
(mas de papel, castelo de papel sustentado por armas e mecanismos como bolsas,
mercado, etc.) Mat�rias primas b�sicas s�o fundamentais � sobreviv�ncia dos
norte-americanos que, entre o aquecimento no inverno e a morte de milhares de
iraquianos, ou palestinos, a tortura, o saque, preferem ficar com o aquecimento
no pressuposto real da sociedade naquele pa�s que fora dali existe sub-gente.
Transformar pa�ses como o Iraque, o Afeganist�o, em col�nias. O Brasil, a
Col�mbia. Passa, entre outras coisas, por produzir carros a custo baixo. � um
exemplo. Explora��o de m�o de obra no Timor, na Indon�sia, em Taiwan, no Brasil,
m�o de obra infantil inclusive.
Por impor goela abaixo de presidentes tontos e sem caminhos, como Lula, o
cultivo dos transg�nicos, favorecendo grandes corpora��es, pouco importa que a
fome grasse, ganha contornos tr�gicos, revoltantes.
� o modelo neoliberal. O capitalismo. A lei do mais forte, que vem a ser a lei
do c�o. Daqueles que t�m mand�bulas e dentes mais vorazes, devoradores.
O sal�rio m�nimo no Brasil � isso. O lucro dos bancos tamb�m, noutra ponta.
� isso que n�o pode mudar.
No Iraque, petr�leo. No Brasil... Na Col�mbia...
Derrubar Ch�vez e Castro, a revolu��o cubana, passa por eliminar resistentes,
exemplar futuros desafiantes (no caso de Ch�vez controlar o petr�leo da
Venezuela, no caso de Cuba, fazer com que a ilha volte a ser bordel de fim de
semana da classe m�dia de Miami, Fl�rida e quejandos).
H� riscos imensos na hip�tese da reelei��o de George Bush.
As desculpas, as explica��es, a face democrata e de homem justo, tudo resulta do
ano eleitoral. Passadas as elei��es, se ganhas, tacape, borduna, bombas de 6
toneladas, o de sempre.
Lobo mau vestido de vovozinha.
O que est� acontecendo no Iraque, no Afeganist�o, o que acontece em Guant�namo,
o que est� reservado ao resto do mundo que ousar se opor ao terrorista de
Washington, � t�o somente pr�tica corriqueira e comum dos norte-americanos ao
longo de sua hist�ria. Aquela conversa de democracia, justi�a, liberdade, ideal,
Mayflower, essas bobagens, se enterram na proibi��o do document�rio de Michael
Moore.
Censura pura. Perceberam, desde a primeira guerra contra o Iraque, a necessidade
de controlar os meios de comunica��o. Entre n�s, a verdade veiculada � a deles.
S� a deles.
Vendem a id�ia da _justi�a infinita , _liberdade duradoura e ignoram a
_choque e pavor , assim denominada por Donald Rumsfeld, no in�cio da invas�o ao
Iraque, para mostrar como seria conquistado e controlado aquele pa�s.
Bush apenas tenta explicar a mercadoria deteriorada, ess�ncia do car�ter de seu
governo, de grande parte dos norte-americanos, fascinados com os B-52 (tem at�
clube de adoradores) e dispostos a garantir o aquecimento no inverno com os
escalpos de iraquianos, afeg�os, colombianos, cubanos, venezuelanos,
paquistaneses, o resto todo.
Sem falar nos que s�o parceiros privilegiados: Blair, Berlusconi, Sharon (esse
tem licen�a para matar) e mais meia d�zia de terroristas de segunda categoria.
Todos com imensas e poderosas bombas.
� acordar e lutar, ou aceitar.