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Latinoamérica

9 de junio del 2003

Política exterior brasileña .
Agencias

Governo prepara aliança com China, Rússia, Índia e África

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara as bases para montar uma aliança de pesos- pesados dos emergentes - China, Rússia, Índia e África do Sul - para tentar colocar-se em pé de igualdade com as grandes potências. Ontem, a uma platéia de dois mil sindicalistas em São Paulo, o presidente expôs, em poucas palavras, o que pretende alcançar e o que já está fazendo..
"Eu disse ao presidente da China, ao presidente da Rússia, ao presidente da Índia, ao presidente da África do Sul: nós não precisamos ser convocados pelo G-8 para falar das nossas reivindicações. Nós, sozinhos, temos força suficiente para estabelecer uma política de troca entre nós, e quando a gente fizer isso, o G-8 vai nos chamar e vai nos respeitar muito mais", disse o presidente, referindo-se ao grupo dos sete países mais ricos do mundo, onde a Rússia tem assento especial..
Parte importante, se não for a principal, da estratégia de estreitar relações com os emergentes é unir a América do Sul ao restante da América Latina. Lula voltou a dizer que para concretizar o velho projeto de integrar os países latino-americanos é necessário, primeiro, construir estradas, pontes, ferrovias e aeroportos. "E nós vamos fazer a integração porque acreditamos que é a forma mais fácil que nós temos para fazer os ricos atenderem parte das nossas reivindicações e pararem com o subsídio dos seus produtos. Não é ficar chorando e reclamando." .
Não é a primeira vez que se tenta reunir países pobres para tomar posição frente às nações ricas. O Grupo dos 15, do qual o Brasil faz parte, é um exemplo que não deu certo. Com apenas cinco meses de governo, Lula está disposto a tentar, à sua maneira..
(Gazeta Mercantil - 05/06/03)


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Acordo Índia-Mercosul .
Pela primeira vez na história do relacionamento diplomático entre Brasil e Índia, um ministro das Relações Exteriores indiano visita o país. Yashwant Sinha chega hoje a Brasília para se reunir com o chanceler brasileiro Celso Amorim e para uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem convidará oficialmente para visitar a Índia no início de 2004..
A viagem inédita não se dá por acaso. O governo da Índia decidiu estreitar relações econômicas, culturais e comerciais com a América Latina e, especificamente, com o Brasil. "Estou trazendo uma mensagem forte de amizade e boa-vontade de meu governo", disse Sinha em entrevista ao Valor..
O status do visitante já dá uma idéia da importância que a Índia atribui ao novo relacionamento com o Brasil. Yashwant Sinha, um cientista político de 65 anos, tem grande prestígio na Índia e no Partido Janata, atualmente no governo. Ele já foi senador e deputado, mas ganhou admiração no país depois de sua passagem pelo Ministério da Fazenda, de 1998 a 2002. Nesse período, o PIB indiano nunca cresceu menos de 5% ao ano e as reservas monetárias alcançaram US$ 80 bilhões (2002), o que permitiu à Índia atravessar sem maiores problemas a recente crise de liquidez internacional..
Na reunião de hoje em Brasília, Sinha espera concluir as negociações para a assinatura de um acordo de comércio preferencial entre a Índia e o Mercosul, que vem sendo discutido há alguns meses. Quer também resolver questões burocráticas, como a da expedição de vistos de longo prazo para empresários e a das taxas antidumping aplicadas pelo Brasil sobre produtos de exportação da Índia..
O comércio entre os dois países cresceu muito nos últimos anos e atingiu US$ 1,22 bilhão nos dois sentidos em 2002, com superávit de US$ 80 milhões para o Brasil. No primeiro quadrimestre deste ano, o intercâmbio somou US$ 410 milhões. Mas Sinha acha que esses valores ainda são baixos e quer resolver problemas que impedem o crescimento ainda mais rápido. Há questões logística, como a falta de rotas aéreas e marítimas diretas entre os dois países. Mas também outros entraves. Sinha espera, por exemplo, conseguir acabar com barreiras fitossanitárias que impedem a Índia de exportar trigo e outros produtos agrícolas ao Brasil..
O ministro indiano e o chanceler Celso Amorim participarão hoje, em Brasília, de uma reunião com a ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Nkosazana Zuma. Será a primeira discussão trilateral para a promoção da cooperação Sul-Sul. Sinha também decidiu chamar todos os embaixadores indianos da América do Sul para uma reunião no Rio, dia 8, na qual pretende passar a nova orientação diplomática de seu governo para o continente..
Um dos problemas mais embaraçosos para a diplomacia da Índia é a sua desavença com o Paquistão. Os dois países vizinhos têm arsenais nucleares e vivem em pé de guerra. Na entrevista ao Valor, Yashwant Sinha disse que a Índia não tem nenhum desejo de ameaçar o Paquistão, nem de viver sob risco de uma guerra nuclear e tem uma doutrina: "Não ser a primeira a usar (armas atômicas)". Ele lembrou que os indianos têm repetidamente estendido a mão em sinal de amizade ao Paquistão, mas observou que nenhum país pode ignorar as ameaças a sua segurança. "A Índia não tem alternativa senão enfrentar adequadamente os desafios à sua segurança colocados pelo terrorismo transnacional patrocinado pelo Paquistão." .
(Valor Econômico - 05/06/03)


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Corrida para a Alca .
Nas alamedas de Brasília, de short e camiseta, Robert Zoellick demonstra a mesma determinação das mesas de reunião. Sempre aperta o passo. Na visita ao Brasil feita na última semana, o representante de Comércio dos Estados Unidos deu um recado claro ao governo Lula: a maior potência econômica do planeta fará tudo para seguir o cronograma oficial e acelerar as negociações para a formação da Área de Livre Comércio para as Américas (Alca). Se depender da vontade americana, o bloco gigante que agrupará 34 países do continente vai existir a partir de janeiro de 2005. "Nossa ênfase está na Alca. Vamos centrar nossa atenção nesse objetivo", disse Zoellick..
Para bom entendedor, isso nada mais foi que um chute para escanteio das pretensões brasileiras de privilegiar negociações em paralelo de um acordo entre o Mercosul e os EUA, o chamado " 4+1 ". Apesar de não ter fechado completamente a porta à vontade do Itamaraty de apostar as fichas numa negociação menos ampla, o representante americano condicionou as discussões do " 4 +1 " ao cronograma da Alca e ao da Organização Mundial do Comércio (OMC). Nada correrá em separado..
Neste mês, deve ser discutida a cesta de temas que serão tratados em cada uma das três esferas - e já antecipam-se trombadas. "Da mesma maneira que os EUA têm temas sensíveis, que crêem que só podem ser resolvidos na OMC, o Brasil e seus parceiros do Mercosul também têm temas sensíveis e também pretendem encaminhá-los para o âmbito multilateral", disse o chanceler Celso Amorim..
O Brasil prefere, por exemplo, tirar da Alca capítulos sobre investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual e serviços, jogando esses assuntos para a OMC, com o intuito de ampliar a discussão . Mas se recusa a deixar também só para a OMC a questão do antidumping e dos subsídios agrícolas, como quer o governo de George W Bush. A competitividade dos produtores brasileiros esbarra em quase US$ 50 bilhões de ajuda concedida pelo governo americano..
Não é a primeira vez que Zoellick exercita seus poderes de pressão. É dele a frase: " Se eles (America Latina ) decidirem querem ir em outra direção, nos olharemos para o Leste e Oeste ", dita durante a campanha presidencial..
Agora Zoellick tem a sua frente o interlocutor que temia e para quem endereçou a mensagem - um refratário governo do PT. Às vésperas da chegada do representante americano, o site do partido ostentava um ataque à Alca de autoria do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães. Punido na gestão de FHC por falar publicamente contra o bloco, Guimarães voltou à ativa. Segundo ele, a Alca vai impedir " definitiva e legalmente" uma política soberana de desenvolvimento..
Outro que levantou a voz foi o vice-presidente José Alencar, depois de se encontrar com Zoellick na quarta-feira. Alencar defendeu uma "nova filosofia" para a Alca e afirmou que discutir tarifas é mais importante que discutir subsídios. Para Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos para o Comércio e Negociações Internacionais (ícone), uma postura resistente demais vai deixar o Brasil de fora de um movimento de explosão de acordos preferenciais de comércio no mundo. Há mais de 250 em curso. Eles estão se tornando uma alternativa às negociações travadas no âmbito multilateral..
Os EUA, por exemplo, estão fechando um acordo com o Chile, negociando com países da América Central, e devem abrir discussão com andinos. Enquanto a Alca e a OMC não andarem, acredita Jank, o governo brasileiro tem de Ter um plano B. "Países como o México e o Chile estão saindo na frente porque assinaram acordo com os EUA, a EU, com países latino- americanos e o Sudeste-Asiático." .
(Revista Época, 02/06/03)