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MST aposta em articulação popular e diz que eleições não devem ser prioridade
MST paulista encerra encontro estadual em Osasco com aposta em
aprofundamento da articulação com demais movimentos sociais em frentes como a
Coordenação dos Movimentos Sociais e a Assembléia Popular. Particularmente,
avaliam dirigentes, o MST não deve priorizar eleições nem declarar apoios no
primeiro turno.
Verena Glass
Carta Maior
http://agenciacartamaior.uol.com.br/
O encontro estadual do MST paulista, que, desde o dia 17, reuniu em Osasco, na
Grande São Paulo, cerca de 2,3 mil acampados e assentados do movimento, se
encerrou hoje com um diálogo com outras organizações sociais, como os Movimentos
dos Trabalhadores Desempregados (MTD),Trabalhadores Sem Teto (MTST), a Marcha
Mundial de Mulheres e a articulação política Consulta Popular, entre outros. O
saldo final, segundo a direção do MST, foi a adoção de uma perspectiva de apoio
aos movimentos aliados, por um lado, e o fortalecimento das articulações intra-movimentos,
por outro.
A aposta na integração dos diferentes movimentos sociais, a socialização das
pautas particulares de cada um e o investimento em debates unificados em torno
de um possível projeto político comum não é novidade, mas, em ano eleitoral,
deve esquentar os tamborins da esquerda não partidária – o que pode significar
tanto concordâncias como discordâncias.
Nacionalmente, o MST participa mais ativamente de duas frentes: a Coordenação
dos Movimentos Sociais (CMS, criada em 2003), que reúne entidades como a CUT, a
UNE, a Marcha Mundial de Mulheres e o movimento de moradia, e a Assembléia
Popular, articulação mais ampla, criada no ano passado, que reúne todos os
setores da Igreja progressista, movimentos sociais e de base do campo e da
cidade, movimento indígena, movimento negro, de mulheres, de saúde, etc.
A CMS, explica Gilmar Mauro, coordenador nacional do MST, foi pensada mais na
perspectiva de articular campanhas conjuntas, como a luta contra a política
econômica do governo, aumento do salário mínimo, geração de emprego e renda, e
reforma agrária. Já a Assembléia Popular teria um objetivo mais político, de
formação das bases, e vem sendo construída através de um processo continuo de
debate nos bairros, municípios e estados do país, a partir de uma plataforma
gerada conjuntamente em um grande encontro em julho de 2005.
Em um primeiro momento, a tendência dos dois espaços frente à corrida eleitoral
desse ano é distinta. Há no interior da CMS, trazida pela CUT e o PC do B
(representado na UNE), uma tendência de defesa do governo e uma proposta, não
consensual, de elaboração de um documento, um "projeto político popular", a ser
apresentado a Lula como demanda dos movimentos. "Uma espécie de vinculante do
apoio à reeleição do presidente", explica Delwek Mateus, também da coordenação
nacional do MST. "É uma proposta da CUT; o movimento não pensa assim", afirma.
Já a idéia da Assembléia Popular, avaliam Delwek Mateus e Gilmar Mauro, se
aproxima mais ao que o movimento tem elaborado internamente. Segundo Mateus, na
perspectiva de que os partidos de esquerda não estariam exercendo, como antes,
um papel de formadores políticos, de organizadores das bases, "é função dos
movimentos sociais assumir a organização e a construção de novos instrumentos
que ocupem esse espaço, pra fazer a luta política, a formação política e
ideológica". Comentando a proposta da CUT na CMS, Mauro completa: "já fizemos
muitos documentos, já enviamos muitos projetos para o presidente Lula, e nada
mudou. O que temos que fazer agora é uma plataforma para o povo brasileiro.
Nesse sentido, a Assembléia Popular não deve se guiar pelo calendário eleitoral,
deve ser algo descolado, mais demorado e participativo".
Sobre a posição particular do MST, Gilmar Mauro afirma que a direção do
movimento ainda não definiu sua estratégia em relação às eleições. "O
comportamento mais provável será o de não posicionamento, principalmente no
primeiro turno. Vamos orientar nossos militantes a votar em candidatos de
esquerda, comprometidos com as lutas sociais e a reforma agrária, mas não
devemos anunciar apoio a ninguém. O segundo turno, obviamente, já é outra
história. Aí provavelmente teremos uma posição".
Mas esta é apenas a tendência mais forte, alerta o dirigente do MST. Há também
duas outras possibilidades, mesmo que remotas, para o primeiro turno: o apoio a
Lula ou à Heloisa Helena. Mas, segundo Mauro, apesar de não desmerecer o
processo eleitoral, que faz parte da vida de todos os cidadãos brasileiros, o
principal objetivo do movimento é "a construção do poder popular, não uma
estratégia de eleitor. Obviamente, se for necessário optar, preferimos um
governo burguês fraco a um governo burguês forte", ele espeta, ao falar da
contraposição Lula-Alkmin.