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Lula quiere ocultar la caja negra de los fondos de pensión
Marcelo Netto Rodrigues
Brasil de Fato
Um "acordão" entre o PT e o PSDB para limitar as cassações dos 16 deputados e
evitar que as investigações cheguem aos fundos de pensão está sendo costurado no
Congresso. A manobra, de alto risco, alimenta a hipótese de que os alegados
empréstimos realizados pelo publicitário Marcos Valério para abastecer o chamado
"mensalão" podem esconder, na prática, movimentações irregulares e ingerência
nos fundos de pensão por parte de integrantes do governo.
O acordo, segundo corre nos bastidores, visa preservar preliminarmente: Antônio
Palocci, José Dirceu, Luiz Gushiken e Cássio Casseb (pelo lado do PT) e Pimenta
da Veiga, Andrea Calabi e Eduardo Azeredo, que ficou de fora da lista das CPI's
apesar de também ter recebido dinheiro de Marcos Valério (pelo lado do PSDB).
Todos, exceto Azeredo, estão envolvidos com o banqueiro Daniel Dantas, do banco
Opportunity, que entre outros negócios, é sócio dos fundos de pensão e do
Citigroup nas empresas Telemig e na Amazônia Celular, justamente duas empresas
que repassaram R$145 milhões a Marcos Valério - motivo pelo qual Dantas foi
chamado a depor nas CPI´s dos Correios e do Mensalão, no dia 21.
Pimenta da Veiga, ex-ministro das Comunicações de FHC (que teve Valério como
avalista em um empréstimo de R$ 152 mil com o banco BMG, em 2004), e Andrea
Calabi, ex-presidente do Banco do Brasil à época do processo que ficou conhecido
como "privataria"durante o governo FHC - quando os fundos de pensão, incluindo a
Previ (do Banco do Brasil) foram usados para comprar empresas brasileiras na
privatização - estariam blindados pelo governo. Isso apesar de Pimenta e Calabi
terem à época ajudado o Opportunity, de Dantas, a obter o controle da Brasil
Telecom, mesmo com apenas 10% das ações contra 45% dos fundos de pensão.
PRESSÃO Não trazer à tona a relação fraudulenta dos fundos de pensão com a
privataria parece ser a moeda de troca oferecida pelo PT para o PSDB. Nesse
suposto acordo, os tucanos não encampariam as acusações de Dantas contra Palocci,
Dirceu, Gushiken e Casseb (presidente do Banco do Brasil na gestão Lula até
novembro de 2004 e ex-vice-presidente do Citibank no Brasil) - todos são
acusados pelo banqueiro de agir politicamente, com sucesso, para que o
Opportunity perdesse o controle da Brasil Telecom, convencendo o Citibank a se
opor ao banqueiro. A CPI dos Correios quer convocar o ex-ministro Luiz Gushiken
para investigar a sua intervenção nos cinco maiores fundos de pensão ligados a
estatais: Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal), Postallis (Correios),
Real Grandeza (Furnas) e Petros (Petrobras), que juntos somam um patrimônio de
R$ 120 bilhões. Todos esses fundos também aparecem como investidores dos mesmos
bancos utilizados por Valério - o Rural e o BMG.
FRAGILIDADE Apesar de tantas teias que se entrelaçam, o professor de ética e
filosofia política da Unicamp, Roberto Romano, levanta dúvidas sobre tal acordo,
apesar de não o descartar. "Isto só é possível se os dois inimigos estiverem na
mesma situação, mas que garantias o PT tem de que não vão surgir mais denúncias
como a do irmão do Palocci ? Até que ponto o Azeredo tem hegemonia in contest
entre os tucanos?", pergunta Romano. O filósofo se refere à acusação contra
Ademar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, de tráfico de influência para
favorecer a seguradora Interbrazil em contratos bilionários com estatais. A
empresa teria sido também seguradora da Leão Leão, empresa de coleta de lixo
acusada de pagar propina ao então prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci.
Após o nome de seu irmão ter sido cogitado para depor na CPI dos Correios, o
ministro da Fazenda ameaçou renunciar e conseguiu barrar a convocação.
Além disso, Romano lembra que um acordo deste tipo entre PT e PSDB seria um
prato cheio para o PFL, que está à espreita, na figura exemplar da "personalidade
autoritária" de ACM Neto - citando o livro sob este título do filósofo alemão
Theodor Adorno: "Apesar de o PFL jogar com o PSDB, ele não o perdoa, como
escreveu o sociólogo Francisco de Oliveira, porque as privatizações promovidas
pelos tucanos tiraram as estatais das mãos do PFL e das oligarquias regionais".Sob
outra perspectiva, o pacto entre PT e PSDB já existiu, na visão de Romano, com
relação ao foro privilegiado a ex-autoridades e autoridades (que semana passada
foi considerado inconstitucional pelo Superior Tribunal Federal). "Fernando
Henrique visava não ser processado pelas privatizações, enquanto Lula queria se
precaver contra possíveis denúncias que venham a aparecer com a crise".