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Enviado pelo companheiro Adauto Melo
Incra diz que EUA monitoram MST
RECIFE (AE) - A superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) em Pernambuco, Maria de Oliveira, recebeu em 10 de fevereiro, na
sede do órgão no Recife, o cônsul dos Estados Unidos no Estado, Peter Swavely, e
o segundo-secretário para Assuntos Políticos da Embaixada dos EUA em Brasília,
Peter Thomas Reiter. Eles buscavam informações sobre o "abril vermelho" de
invasões que o Movimento dos Sem-Terra (MST) prometia e queriam saber se o
Brasil e Pernambuco estavam preparados para dar uma resposta de atendimento ao
movimento.
"Recebi a embaixada porque me pediram uma agenda, mas o encontro realmente se
resumiu ao ‘abril vermelho’", contou Maria ontem, por telefone, de Brasília. A
reunião foi sigilosa e surpreendeu a superintendente regional, que nunca havia
recebido embaixadores antes.
Numa nova reunião, os americanos queriam complementar informações sobre a onda
de invasões dos sem-terra em abril. Também buscavam esclarecer notícias
veiculadas na imprensa de que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)
estariam atuando em Pernambuco, na Fazenda Normandia, em Caruaru no agreste,
onde fica a sede do MST no Estado. A presença das Farc em Pernambuco foi
denunciada por um ex-integrante do MST e investigada pela Comissão Parlamentar
de Inquérito da Terra.
Depois, os americanos tentaram novas reuniões com Maria, mas ela decidiu não
mais recebê-los e sugeriu que procurassem o Ministério do Desenvolvimento
Agrário em Brasília, por considerar que era mais adequado do ponto de vista
hierárquico e especialmente por dizer respeito à soberania nacional.
O fato veio à tona sábado, em reportagem publicada no Jornal do Commercio, em
que a superintendente confirmou o encontro e falou de seu desconforto com isso.
"Para mim essa situação de um país buscar informações sobre movimentos sociais
de outro país é muito preocupante." Maria disse que se a embaixada sentia a
necessidade de ter mais informações deveria procurar o ministério.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário, entretanto, não foi procurado por
representantes do governo americano, segundo informações do secretário-executivo
da pasta, Guilherme Cassel.
Enviado pelo companheiro Joba-Pe
Folha de Pernambuco, 26.4.2005, Geral
**"Esta é uma prática normal num governo fascista como de Bush"
ENTREVISTA JOÃO PEDRO STÉDILE
O principal representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
no País, João Pedro Stédile, em entrevista ao Jornal do Commercio,
demonstrou indignação com as denúncias feitas por Maria de Oliveira. Ele
informou que a coordenação nacional do MST vai cobrar um posicionamento do
Governo Federal. "Nós sabemos, em teoria, que todas as dependências diplomáticas
dos Estados Unidos são usadas também para espionagem aqui no Brasil e em todas
as partes do mundo". Ele classificou a atitude como ridícula e descabida. "Esse
governo se comporta como polícia do mundo e não respeita a soberania de nenhum
país".
POSICIONAMENTO Nós vamos pedir explicações ao governo brasileiro e exigir
providências para que os diplomatas norte-americanos se restrinjam às atividades
diplomáticas e não de ingerência nos assuntos internos do País e muito menos dos
movimentos sociais que aqui atuam."
REPERCUSSÃO "Acreditamos que os fatos que vieram a público pela superintendente
do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Pernambuco,
Maria de Oliveira, é uma denúncia a todas as entidades internacionais sobre a
ingerência do governo Bush em assuntos internos dos países. Imaginem o que eles
estão fazendo no Haiti, Equador e Panamá e Guantánamo. Esta, infelizmente, é uma
prática normal de um governo fascista, belicista e imperialista como o Governo
Bush."
PREPOTÊNCIA "O episódio revela a extrema prepotência do Governo Bush, que se dá
ao direito de, tomando conhecimento de fofocas pela imprensa, ir ele mesmo
checar se as informações são corretas ou não (referência às denúncias da CPMI da
Terra de que as Farc teriam ligação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra – MST). Demonstra também que esse governo se comporta como polícia do
mundo e não respeita mais a soberania de nenhum país."
PRECEDENTES "Nós sabemos, em teoria, que todas as dependências diplomáticas dos
Estados Unidos são usadas também para espionagem aqui no Brasil e em todas as
partes do mundo. Sabíamos das denúncias, ano passado, do escritório formal que a
CIA mantinha em São Paulo com o conhecimento do governo do Brasil. Mas como
estavam dentro do consulado, não havia nada a fazer."
FBI "Também tomamos conhecimento pelas denúncias de um ex-diretor do FBI no
Brasil que, ao aposentar-se, revelou em longa entrevista à Carta Capital todas
suas maquinações para colher informações e pagar delegados da Polícia Federal. E
de que, inclusive, o FBI gasta milhões de dólares todos os anos para repassar a
membros da Polícia Federal com o objetivo de desenvolver atividades em parceria.
De maneiras que as atividades deles são tão prepotentes que até nem se preocupam
em esconder muito."
REAÇÃO "De nossa parte, não temos nenhuma preocupação porque nosso movimento
luta por terra, por trabalho, por escola e por dignidade. Reivindicações que não
só são legítimas como são direitos fundamentais de que qualquer pessoa,
inclusive nos Estados Unidos."